João Paulo II – O ATENTADO

ORDENADO PELA UNIÃO SOVIÉTICA?

O Papa João Paulo II, no dia 13 de maio de 1981, foi vítima de um atentado, em que houve fortes suspeitas de ter sido mandatado pelos serviços secretos soviéticos.

A União Soviética achava que o Papa estava a dar muita força à rebelião dos católicos polacos e, nomeadamente, do movimento operário contra o governo comunista. E a União Soviética tinha medo que essa onda de contestação se alastrasse aos outros países de influência comunista. Daí que, embora o Vaticano nunca o tenha afirmado, era voz corrente no mundo Ocidental que a União Soviética tinha usado um criminoso turco para tentar matar o Papa.

O atentado
Ali Agca disparando contra o Papa

ESTÃO A DISPARAR CONTRA AS POMBAS

Estávamos a 13 de maio de 1981. O Papa percorria o corredor entre as pessoas, na audiência geral de quarta-feira, em cima do seu jeep branco. Pelas 17h15 ouviram-se disparos e as pombas voaram. Alguém disse: «Estão a disparar contra as pombas». Mas o Papa, que estava com uma criança nos braços a entregá-la aos pais depois de a beijar, curvou-se agarrado ao abdómen e o seu secretário particular perguntou-lhe onde é que estava ferido. O Papa disse que estava ferido no abdómen. Ao mesmo tempo, foi rodeado pelos guardas suíços à paisana que seguiam o jeep.

O Dr. Buzzonetti, médico pessoal do Papa, viu logo que a ferida era muito grave e o Papa, acompanhado também de um enfermeiro e pelo Irmão Camilo, foi levado para a Clínica Gemelli, prontamente alertada de que o Papa ia a caminho. A ambulância percorreu em 8 minutos um caminho que normalmente precisa de 30. Tinham sido disparadas duas balas de 9 milímetros. Uma, feriu-o no abdómen e a outra apenas roçou no Papa e foi ferir, com pouca gravidade, duas senhoras americanas. Uma das balas caiu no jeep, aos pés do secretário particular do Papa.

Ali Agca
Ali Agca

FOI ESTE!

Ao mesmo tempo, na Praça de São Pedro a multidão começou a gritar «este, este» e uma religiosa, de nome Lúcia, agarrou o criminoso pelos ombros, segurando-o até chegar a polícia. Mehmet Ali Agca tinha-se posto na terceira fila dos assistentes e tinha disparado.

A OPERAÇÃO

Quando o Papa chegou à clínica, a sala de operações já estava pronta. Mas, antes de entrar (talvez na ambulância), o secretário do Papa administrou-lhe os últimos sacramentos. Na clínica, ainda foi preciso esperar pelo cirurgião, que estava na clínica da Via Amélia, mas que conseguiu chegar depressa, depois de ter explicado a situação a um taxista. Enquanto esperavam pelo cirurgião, iam anestesiando o Papa e retiraram-lhe o anel com o brasão papal.

O médico operador, uma vez na clínica, pôs as luvas e a bata de operar em tempo record. Foi logo informado que a tensão do Papa era muito baixa, e pior, continuava a baixar estando a máxima a 8, 7…

Tomou logo as providências necessárias e abriu o abdómen do Papa. O Papa tinha muitas lesões no intestino delgado e no cólon, assim como numa membrana muito importante.

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Enquanto o Papa estava a ser operado, um grupo de polacos pôs um ícone de Nossa Senhora de Czestochowa na cadeira que devia ter sido ocupada pelo Papa na praça de São Pedro.

Durante a operação, foram chegando à clínica cardeais, governantes e diplomatas. O Presidente da República Italiana, Sandro Pertini, esteve na clínica durante as seis horas em que o Papa esteve no bloco operatório. Nos dias seguintes, chegaram à Secretaria de Estado do Vaticano e à clínica cerca de 15.000 telegramas e centenas de quilos de cartas de pessoas angustiadas e preocupadas. Operários polacos rezavam no meio da rua.

João Paulo II - No recobro
João Paulo II após a intervenção cirúrgica

O RECOBRO

Quando o Papa acordou, agradeceu ao anestesista – que era quem estava com ele – os cuidados que tinham tido com ele e voltou a adormecer. Já no quarto de reanimação, quando acordou, a preocupação que logo manifestou ao seu secretário particular foi se tinham rezado completas. («Completas» é uma oração própria dos sacerdotes). O Papa comungou logo nos dois primeiros dias do recobro e já concelebrou a santa Missa. Quatro dias depois, no domingo seguinte, à hora do Angelus, foi difundida uma mensagem do Papa, na Praça de São Pedro, em que se dizia:
«Rezo pelo irmão que me feriu, a quem perdoei sinceramente. Penso nas duas pessoas feridas. Unido a Cristo sacerdote e vítima, ofereço os meus sofrimentos pela Igreja e pelo mundo (…)».

Depois da operação, os responsáveis do Vaticano quiseram consultar uma equipa de especialistas de renome mundial. Assim, chamaram o Dr. Welch, do Hospital Geral de Massachusetts, Boston, Estados Unidos; o Dr. Cahill, de Nova York; o Prof. Francisco Vilardell, chefe do serviço de Patologia do Hospital San Pablo de Barcelona, Espanha; o Prof. Buente, da Clínica Universitária de Munster, e o Prof. Lygne, cirurgião no hospital de Santo António de Paris. A estes médicos juntou-se um amigo do Papa: o Dr. Gabriel Turowski, que tinha voado para Roma por sua própria iniciativa. Este conjunto de médicos esteve reunido durante três horas com os médicos italianos e chegaram à conclusão que o Papa estava a ser muito bem acompanhado e que só havia que esperar pelas suas melhoras(1).

No próximo artigo, continuaremos com o Papa João Paulo II na clínica Gemelli. Falaremos dos diálogos entre o Papa e o seu operador. De que falariam eles? Mas também abordaremos outros assuntos. Por exemplo, que fez o Papa durante o recobro? Como é que estava instalado?


Gonçalo Miller Guerra, sj

(1)  Este episódio da vida do Papa João Paulo
II seguiu de perto o livro Pregonero de la
Verdad, de Eusebio Ferrer, Desclée de Bouwer,
Bilbao, 2000, 303-313.
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