Pai na sombra ou nem sombra de Pai?!

Confissões de um Padre…

Cai-me nas mãos uma ficha de inscrição para o Batismo. Nenhuma informação a respeito do pai! A mãe entregava a ficha sem problema, como se a omissão dos dados e a referência paterna não fosse motivo de reflexão, de justificação, de alguma explicação… À minha pergunta, perante o espaço em branco, a conversa foi-se desfiando numa narrativa lenta, entre soluços e lágrimas, entre lutas e sofrimentos, entre sentimentos fortes e argumentos fracos, para perceber o óbvio: a criança a batizar foi concebida por inseminação artificial com esperma de dador incógnito, “no estrangeiro”.

O natural desejo de ser mãe confunde-se com o auto-proclamado “direito a ser mãe” que, por sua vez, esquece o direito natural do filho a “ter pai” e ignora todos os efeitos colaterais na vida e na identidade pessoal de um ser humano, que jamais, e em tempo algum, conhecerá uma das sua raízes.

É a terceira vez, em pouco tempo que me deparo com situações destas. Obviamente, não é a oportunidade e a necessidade do batismo da criança que eu questiono. Mas a «ligeireza» com que se tenta «despachar o assunto», transformando emoções em virtudes e desejos em direitos. Sem ponderação, sem reflexão ética, sem atenção aos direitos do nascituro.

E por que será que alguém que pede à Igreja o Batismo de uma criança não pede também orientação para o discernimento moral e para a decisão ética em matéria tão sensível como esta?

Podemos branquear a situação, deixando apenas «em branco» o espaço destinado aos dados do pai?! É que não se trata de um pai na sombra. É que aqui… nem sombra de pai se verá.

Fica-nos o desafio de um acompanhamento paterno… Porque mesmo aquele que nunca viu o pai ou foi amado por um pai sabe o que é um pai. Está-lhe na massa do sangue, por muito ensombrado que pareça.

Para Si:  Deus e a Pandemia

Por: Padre Amaro Gonçalo Ferreira Lopes

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