Dizem que Nossa Senhora, além de Jesus, teve outros filhos. É verdade?

Questões de linguagem na Bíblia.
Na língua de Jesus não há palavra para indicar primos ou primas. Chamam-se irmãos aos primos, sobrinhos e até quaisquer parentes.

O Livro do Génesis fala de Lot como irmão de Abraão, mas diz-nos também que eram tio e sobrinho (Gen 12, 5). O mesmo livro refere-se a Jacob como irmão de Labão (Gen 29, 12-15), mas noutras passagens ficámos a saber que eram tio e sobrinho, pois Labão era irmão de Rebeca, mãe de Jacob (cf. Gen 28, 1-2).

De modo ainda mais alargado, na Bíblia, a palavra irmãos usa-se para designar as pessoas da mesma tribo (Lev 14, 4) e até do mesmo povo (Ez 2, 11).

Nos Evangelhos, há duas passagens que devem ser lidas neste contexto. Em Marcos, os habitantes de Nazaré afirmam acerca de Jesus: «Não é Ele o carpinteiro, o filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? E as suas irmãs não estão aqui entre nós?» (6, 3). E em Lucas diz-se que «sua Mãe e seus irmãos vieram ter com Ele…» (8, 19). Nestes dois casos, e nos lugares paralelos dos demais Evangelhos, deve entender-se esta linguagem como referindo-se à família alargada de Jesus, ou seja, primos ou tios ou outros parentes mais afastados. Aliás, se a Mãe de Jesus tivesse outros filhos, não faria muito sentido que, no Calvário, Ele a confiasse aos cuidados do discípulo João, dizendo a Maria que João passava a ser o seu filho e a João que Maria passava a ser a sua mãe. E o evangelista acrescenta: «E desde aquela hora o discípulo acolheu-a como sua» ou, noutras versões, «em sua casa» (João 19, 25-27).

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Outras interpretações. Algumas Igrejas cristãs, de origem protestante, negam a interpretação apresentada acima. Fazem-no porque defendem uma leitura literal da Bíblia (e, portanto, se a Bíblia diz irmãos só podem mesmo ser irmãos, no sentido biológico); ou porque não aceitam a doutrina católica (e também ortodoxa) sobre a virgindade de Nossa Senhora e pensam encontrar nestas passagens bíblicas a prova clara de que tal doutrina está errada. Para lá das discussões doutrinais, porém, resta o consenso alargado entre os estudiosos da Bíblia sobre o problema de vocabulário acima exposto, que é real e deve ser considerado sempre que, em qualquer livro da Bíblia, se usa o termo irmão para referir relações de parentesco.

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